Sentada na minha mesa italiana, no lusco-fusco eléctrico da luz do quarto, começo sem querer a pensar na vida que vou deixar, aquela tão perto do oceano imenso; a palavra "saudade" sai logo na cabeça, e a seguir, a sensação de confunsão típica de mim.É isso mesmo que me traz a escrever nesta língua exótica, que já não é só o tópico de um exame, num junho quente na Italia.
É comunicação de todos os dias.
É amisade.
É rir a volta da mesa depois do jantar.
É perceber o som sibilante nas ruas, enquanto os velhotes com chapéu falam entre si.
As subidas impossíveis, os bolos fofos, a luz que não tem nada parecido no mundo enteiro, e o céu. O céu de Lisboa.
As paredes cheias de vida. As cores.
A expressão pessoal através de palavras que não me ensinou a minha mãe, e que no início nem pareciam naturais, dentro da minha boca estrangeira.
Pois é, minha querida cidade. Temos três meses para nos cansarnos, uma da outra. Mexeste o meu coração sensível.
Mas não é só isso.
Hoje, com a minha mão dentro da tua, amor em pel e carne, pensava também na necessidade de ficar contigo, muito tempo, sem interrupções, sem vôos, sem distâncias.
E este noventa dias portugueses que ainda tenho, parecem demasiados para não te ver, não te abraçar, não te beijar na nariz linda, sobre os olhos, e em todos os lugares disponíveis.
Tudo o que posso dizer, é que vais ser a minha salvação; daquí a pouco, vou acabar de acordar-me a baixo do sol do Portugal.. mas com certeza, um sol ainda mais luminoso vai esclarecer os meus dias.